Tibério Cláudio Nero César (em latim
A sua família aparentou-se com a família imperial quando a sua mãe, com dezenove anos e grávida, se divorciou do seu pai e contraiu matrimônio com Octávio Augusto (38 a.C.). Mais tarde, ele casou-se com a filha de Augusto, Júlia a Maior. Foi adotado formalmente por Augusto a 26 de junho de 4 d.C., passando a fazer parte da gens Julia. Após a adoção, foram-lhe concedidos poderes tribunícios por dez anos.
Ao longo da sua vida, Tibério viu desaparecer progressivamente todos os seus possíveis rivais na sucessão graças a uma série de oportunas mortes. Os descendentes de Augusto e Tibério continuariam a governar o Império durante os próximos quarenta anos, até a morte de Nero.
Como tribuno, reorganizou o exército, reformando a lei militar e criando novas legiões. O tempo de serviço passou para os vinte anos (16 anos para um pretoriano ou guarda imperial). Após cumprir o tempo de serviço, os soldados recebiam um pagamento, cujo valor provinha de um imposto de cinco porcento sobre as heranças.
Porém, posteriormente, inimistou-se com o imperador Augusto, e viu-se obrigado a exilar-se
Em 13 d.C., os poderes de Augusto e de Tibério foram prorrogados por dez anos. Contudo, Augusto faleceu pouco depois (19 de agosto de 14 d.C.), ficando Tibério como único herdeiro. Tibério sucedeu a Augusto em 19 de agosto de "767 ab urbe condita", correspondente ao ano 14 d.C. Após a sua entronização, todos os poderes foram transferidos para Tibério.
Tibério converteu-se num dos maiores generais de Roma. Nas suas campanhas na Panônia, Ilíria, Récia e Germânia, Tibério assentou as bases daquilo que posteriormente se tornaria a fronteira norte do Império. Contudo, Tibério chegou a ser recordado como um obscuro, recluído e sombrio governante, que realmente nunca quis ser imperador; Plínio, o Velho chamou-o de "tristissimus hominum" ("o mais triste dos homens"). Após a morte de seu filho, Júlio César Druso em
Juventude
Origens
Tibério Cláudio Nero Germânico Augusto (Tiberius Claudius Nero Germanicus Augustus) nasceu a 16 de novembro de
Há poucos dados sobre a juventude de Tibério. Em
Como resposta, selecionou uma série de possíveis herdeiros, entre eles Tibério e o seu irmão Druso. Em
Pouco depois, Tibério iniciou na corte a sua carreira como advogado, e é de supor que foi nesse momento que despertou a sua paixão pela retórica grega. Em
Após regressar do Oriente em 19 d.C., Tibério casou-se com Vipsânia Agripina, filha do melhor amigo e general de Augusto, Marco Vipsânio Agripa. Foi nomeado pretor e enviado, no comando das suas legiões, a unir-se às campanhas do seu irmão Druso no Ocidente. Enquanto Druso centrou as suas forças na Gália Narbonense e ao longo dos Alpes, Tibério combateu as tribos dos Alpes e da Gália Transalpina. Em
A morte de Agripa em
Em
Independentemente dos motivos de Tibério, a retirada foi desastrosa para os planos sucessórios de Augusto. Caio e Lúcio estavam ainda na adolescência, e Augusto, que contava então 57 anos, não tinha um sucessor imediato. A retirada de Tibério punha em perigo uma transferência pacífica de poder após a morte de Augusto e deixava de existir a garantia de que, após a morte do princeps, o poder seguiria nas mãos da sua família ou dos aliados da sua família.
Certas histórias apócrifas relatam que quando Augusto caiu gravemente enfermo, Tibério navegou para Roma e desembarcou em Ostia ficando a saber que Augusto sobrevivera. Tibério voltou para Rodes e dali enviou várias cartas ao imperador solicitando voltar a Roma, coisa que Augusto negou em diversas ocasiões.
Com a retirada de Tibério, a sucessão recaía exclusivamente nos dois novos netos de Augusto, Caio e Lúcio César. A situação tornou-se de repente mais precária com a morte de Lúcio no ano 2. Augusto, a pedido de Lívia, permitiu a Tibério regressar a Roma, mas apenas como cidadão romano. No ano 4, Caio faleceu na Armênia e Augusto não teve outro remédio senão recorrer a Tibério.
A morte de Caio em 4 d.C. foi o começo duma frenética atividade palaciana. Tibério foi adotado como filho e herdeiro de pleno direito. Por seu lado, Tibério viu-se obrigado a adotar o seu sobrinho, Germânico, filho do seu irmão Nero Cláudio Druso e de Antônia Menor. Tibério recebeu poderes tribunícios e assumiu parte do maius imperium de Augusto, algo com o que nem Agripa fora recompensado. No ano 7, Agripa Póstumo foi repudiado por Augusto e exilou-se na ilha Pianosa, onde viveu confinado
Augusto faleceu em 14 d. C., com 76 anos de idade.Augusto foi enterrado com todas as cerimônias estabelecidas e deificado. Tibério, por seu lado, foi confirmado como único sucessor.
Imperador
Primeira etapa
Conforme o método de Augusto e às aparências que ele tomara a princípio frente ao senado, Tibério teve a precaução de evitar pôr em evidência a extensão do seu poder pessoal. Decidiu não adotar o nome de Imperator: apenas acrescentou o apelido de Augusto ao nome de Tibério Júlio César, que tinha desde a sua adoção; e, nas inscrições e moedas o nome de Tiberius Caesar Augustus sucedeu ao de Imperator Caesar Augustus. Jamais deixou outorgar-se o título de pai da pátria.
Mas, atrás desta atitude aparentemente escrupulosa, afastava-se na realidade cada vez mais das instituições republicanas. Tibério decidiu transferir a nomeação dos magistrados dos comícios para o senado. Com isto os comícios perderam uma atribuição muito importante, e desapareceu o sistema eleitoral próprio da República Romana. Curiosamente, acabar com este direito da cidadania não foi difícil. Na realidade, fazia tempo que as assembleias populares estavam desacreditadas, pois tinham-se mostrado caprichosas, servis e incapazes de tomar decisões, logo tinham deixado de ser a representação do povo romano.
O imperador designava candidatos para algumas das magistraturas, e os lugares que ficavam vagos (sem proposta do imperador) eram designados pelo senado e formava-se uma lista única. As assembleias populares ou comícios (que se continuaram celebrando até o século III) limitavam-se a aclamar a lista única. As leis eram promulgadas sem intervenção das assembleias. De fato, o povo somente conservava o poder num aspecto: o seu favor ou a sua hostilidade eram determinantes para os imperadores, e expressavam-se nas grandes celebrações do circo.
Estas medidas, pareciam reforçar o poder do senado. Mas Tibério procurou uma série de compensações. A mais importante foi a aumentar o corpo da guarda pretoriana de três coortes para nove e a construção de um acampamento permanente para elas chamado castra praetoria num arrabalde da cidade.
O senado promulgou várias leis, entre elas uma sobre o estatuto social das mulheres que tivessem relações sexuais com escravos, uma sobre tutela, uma sobre penas por deterioração de edifícios públicos, normas sobre julgamentos criminais, castigos de escravos que estivessem presentes numa casa quando o amo fosse assassinado, e uma lei de herança das mulheres (os filhos da qual eram preferentes aos seus irmãos ou parentes).
O senado adquiriu uma função importante a respeito das províncias: a atuação dos senadores como jurados nos casos de concussão (Repetundae), isto é, de aquisições ilegais por parte dos governadores e funcionários públicos provinciais (aparentemente, os juízos de Repetundis foram frequentes). Também julgava os delitos de traição ou de lesa majestade.
À categoria de senador podiam aceder aqueles que possuíam terras no valor de um milhão de sestércios, os quais procediam em grande parte da ordem dos cavaleiros. Assim, a maioria dos que tinham a categoria de senador (embora nem todos exercessem o cargo, que era eleito) constituíam uma casta hereditária à qual somente podia aceder-se desde outras classes por designação imperial direta ou indireta.
Institucionalização dos cargos
Para chegar a ser senador era necessário ter exercido previamente as magistraturas seguintes:
O vigintivirato (vinte pessoas cada ano), ao qual se acedia a partir dos dezoito anos, e que eram uns superintendentes para as rendas das fábrica de moedas e outras funções.
O tribunado militar.
A questura (vinte questores anuais), à qual se acedia a partir dos vinte e cinco anos, e que auxiliavam os procônsules ou governadores provinciais em matérias de finanças.
O tribunado da plebe, ao qual se acedia aos 27 ou 28 anos, com direito de veto em certos assuntos públicos. Esta magistratura ficou vazia de conteúdo político com a consequente perda de poder das assembleias a que presidia o tribuno da plebe.
A pretura (dez pretores anuais, aumentados depois até dezoito), à qual acediam com trinta anos, e que comportava o governo de uma província de segunda ordem e o comando de uma legião (propretores), ou o desenvolvimento de uma pretura especial (do Erário, etc.). Os pretores tinham funções judiciárias e designavam árbitros em causas civis.
O consulado (dois cônsules ordinários e mananiciais auxiliares), ao qual se acedia a partir dos quarenta anos. As funções do cônsul eram presidir ao Senado e às Assembleias e, em alguns casos, administrar justiça.
Procônsules ou governadores provinciais, que governavam as províncias senatoriais de primeira ordem, com poderes consulares (cívico-militares).
Após exercer todas ou parte destas magistraturas chegava-se à categoria de senador. A maioria dos senadores eram italianos, procedentes da classe senatorial.
Direitos e funções do Imperador
O Imperador (Princeps) dispunha de todos os poderes de um tribunal (Tribunicia potestas), dos quais tinha um procônsul no governo das províncias (poder que o Imperador podia exercer em qualquer parte do território), e seguramente dos poderes de um cônsul, pois se o desejava ostentava o cargo de Consul ordinarius. Era, além disso, Pontifex Maximus e com frequência exercia também as funções censoriais (embora não ostentasse o título de censor, magistratura "ressuscitada" por Cláudio). Eram-lhe atribuíam várias qualificações: Pater Patriae, Princeps Senatus, Imperator e Augustus.
O Imperador tinha ao seu serviço os funcionários públicos seguintes:
O Imperador dispunha das seguintes rendas, que constituíam o Fiscus:
As propriedades do imperador (terras, palácios, vilas na Itália ou nas províncias e outras), parece que passavam ao seu sucessor, até mesmo não sendo parentes. Os cidadãos e as comunidades podiam dirigir-se ao Imperator, consultavam-no sobre questões legais e recebiam resposta. No tempo de Tibério os tributos às províncias exigiam-se com moderação e as leis aplicavam-se com justiça.
O imperador exerceu também como censor, e encarregou a realização do censo às províncias (instituído já por Augusto). Entre as leis que aplicou figuram as seguintes:
Auge e queda de Germânico
Os problemas militares, por sua vez, surgiram depressa para Tibério: as legiões da Panônia e Germânia não receberam as primas prometidas durante o reinado de Augusto e, após um breve período de tempo em que assumiram que não haveria resposta por parte de Tibério, amotinaram-se.Germânico e o filho de Tibério, Júlio César Druso foram enviados para a região à cabeça de uma força com o objetivo de sufocar a rebelião.
Germânico, porém, reuniu os amotinados e liderou-os numa breve campanha ao longo do Reno, em território germânico, afirmando que qualquer pilhagem que pudessem conseguir constituíria a prometida prima. Germânico e o seu exército cruzaram o Reno e ocuparam todo o território entre esse rio e o Elba. Tácito escreve que Germânico recuperou as águias perdidas após a ignominiosa derrota na Batalha da floresta de Teutoburgo, na qual três legiões romanas, sob comando de Públio Quintílio Varo, foram aniquiladas numa emboscada germana. Apesar da indolência militar de Tibério, Germânico proporcionara um duro golpe aos inimigos de Roma na Germânia, sufocara um amotinamento de tropas e ademais trouxera para Roma as águias perdidas. Estas heroicas ações posicionaram Germânico num lugar privilegiado na linha sucessória.
Após a sua campanha na Germânia, Germânico celebrou um triunfo em Roma em 17 Este triunfo era o primeiro que contemplava Roma desde os do imperador Augusto em
Lúcio Élio Sejano tinha servido a família imperial por mais de vinte anos quando foi eleito Prefeito do pretório em 15 d.C.. À medida que Tibério ia detestando mais a sua posição no poder, começou a depender com maior intensidade da guarda pretoriana e do seu líder Sejano. Em 17/18 d.C., Tibério delegou à guarda pretoriana a tarefa de defender a cidade, e transladou-os a acampamentos situados no exterior das muralhas da cidade, dando com isso a Sejano o comando de entre 6.000 e 9.000 soldados. A morte de Druso elevou Sejano ao olhos de Tibério, que se referia a ele como "o meu companheiro". Tibério erigiu estátuas de Sejano por toda a cidade e foi retirando-se gradualmente do poder que foi cedido a Sejano. Quando Tibério se retirou finalmente em 26, Sejano estava ao cargo da administração do Estado e da capital.
A posição de Sejano não era exatamente a de um sucessor, pois pedira a mão de Livila, a sobrinha de Tibério em 25, e ficara obrigado retirar a solicitude sob pressões. Sejano e a guarda controlavam o correio imperial e portanto estavam em posse de toda a informação que Tibério enviava a Roma e que Roma enviava a Tibério. Contudo o poder acumulado, a presença de Lívia Drusilla limitava a área de ação dos pretorianos, porém, a sua morte em 29 d.C. mudou tudo. Sejano iniciou uma série de juízos amanhados de senadores e ricos cavaleiros procedentes da ordem equestre com os que eliminou todos os seus rivais políticos e aumentou o tesouro público (e o seu próprio). A viúva de Germânico, Agripina e dois dos seus filhos, Nero César e Druso César foram detidos e exilados em 30, falecendo posteriormente em suspeitosas circunstâncias.
O assassinato de Sejano e os juízos por traição danificaram a reputação de Tibério. Após a queda de Sejano, a retirada de Tibério foi completa; o Império seguiu funcionado através da inércia burocrática estabelecida por Augusto, em vez de ser dirigido pelo princeps. Tibério tornou-se completamente paranoico e passou cada vez mais tempo isolado após a morte do seu filho. Enquanto Tibério estava retirado, segundo Suetônio, os partos iniciaram uma breve invasão, e as tribos dácias e as tribos germânicas do Reno realizavam incursões em território romano.
Tibério não fez disposições para garantir uma sucessão pacífica. Após a morte de muitos dos Júlios, dos seus partidários e do seu próprio filho, os únicos candidatos sérios para o suceder eram o seu neto Tibério Gemelo e o filho de Germânico, Calígula. Apesar de tudo, Tibério seguiu sem realizar nenhuma disposição sucessória e somente há notícias de uma tentativa no final da sua vida de nomear Calígula questor honorário.
Tibério faleceu em Miseno a 16 de março de 37 d.C. aos 77 anos. Segundo Tácito, a morte do imperador foi recebida com entusiasmo entre o povo romano, somente para silenciar-se repentinamente quando teve notícias da sua recuperação e voltar a regozijar-se quando Calígula e Macro o assassinaram. Contudo, os escritos de Tácito são provavelmente apócrifos pois não são confirmados por nenhum outro historiador antigo. O relato de Tácito pode indicar o sentimento predominante no senado para com Tibério no momento da sua morte. No testamento de Tibério, o finado imperador delegava a Calígula e a Tibério Gemelo o reinado conjunto.A primeira coisa que Calígula fez foi assumir os poderes de Tibério e assassinar Tibério Gemelo.
A queda de Tibério não se deveu ao seu abuso de poder, mas ao facto de negar-se a usá-lo. O seu reinado, apático comparado com o do seu predecessor, fez ganhar a animadversão do povo. O senado funcionara sob o comando de Augusto durante anos e, quando Tibério quis devolver-lhe a sua autonomia, este não soube agir sozinho. Após fracassar, Tibério pareceu ficar desinteressado da sua posição.
Fonte: www.wikipedia.org